Teatro

Livremente inspirada em livro homônimo de Manoel Soares, peça Para Meu Amigo Branco faz estreia no Sesc Belenzinho, em São Paulo

Com direção de Rodrigo França, que assina o texto com Mery Delmond, espetáculo enfoca um caso de racismo na escola e estreia na cidade após esgotar sessões no Rio de Janeiro, em 2023

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Da Redação

06/03/2024 17:43

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Fonte: Crédito: Ágatha Flora

Teatro

Durante uma reunião escolar entre pais e professores, um homem levanta um importante debate sobre racismo: sua filha de 8 anos foi chamada de “negra fedorenta” por um colega branco. Esse é o mote do espetáculo “Para Meu Amigo Branco”, com direção de Rodrigo França, que chega à São Paulo após bem-sucedidas temporadas no Rio de Janeiro, em 2023. As apresentações acontecem no Sesc Belenzinho entre os dias 1º e 24 de março, com sessões às sextas e aos sábados, às 21h30, e, aos domingos, às 18h30.

Livremente inspirada no livro homônimo do jornalista e ativista social Manoel Soares, a peça venceu o edital Sesc RJ Pulsar e foi indicada ao Prêmio Shell de melhor cenário 2023. Na trama, enquanto a escola prefere lidar com a questão da violência contra a garota apenas como um mero bullying, seu pai, interpretado por Reinaldo Junior, luta para mostrar aos presentes que a situação é bem mais complexa. O impasse ganha novos contornos quando um pai branco (Alex Nader), inicialmente solidário à causa, muda de comportamento ao descobrir que seu filho é o responsável pela agressão.

O texto é assinado por Rodrigo França, que atualmente concorre ao Prêmio Shell de Dramaturgia no Rio de Janeiro por "Angu", e Mery Delmond. A ideia é que personagens brancos e negros discutam o racismo em cena, estimulando a plateia a refletir sobre as suas ações cotidianas.

Para isso, o público deixa de ser passivo. “A encenação faz o possível e o impossível para que as pessoas esqueçam que estão no teatro e mergulhem na realidade da reunião escolar. Ou seja, além de os espectadores estarem posicionados como se estivessem dentro da ação, a atriz que interpreta a professora circula entre todo mundo, incluindo todos os presentes naquele ambiente”, conta França.

“O espetáculo fala sobre uma figura paterna incansável, que não tolera o racismo e deixa isso bem claro. A peça clama por dignidade. O texto defende que só é possível respeitar o outro se enxergarmos a humanidade do outro”, defende França.

Também foi importante para o diretor o fato de esse personagem combativo ser um pai. “Embora o abandono paternal seja uma realidade bastante presente, esse fato não é uma verdade absoluta. Acredito que devemos oferecer bons exemplos para as crianças e jovens, mostrando que é possível viver de uma maneira diferente”, argumenta.

Para Manoel Soares, o histórico de racismo no Brasil coloca as vitórias da comunidade negra sempre em segundo plano. “Tudo que os pretos têm de positivo acaba sendo ofuscado pela agenda da dor. Essa agenda só vai deixar de existir se for dividida com as pessoas de pele clara”, analisa o comunicador e ativista.



Repercussão do espetáculo no Rio de Janeiro

A peça foi sucesso de público e crítica em suas duas primeiras primeiras temporadas no Rio de Janeiro, no Arena do Sesc Copacabana, em agosto de 2023, assistida por mais de 3.400 espectadores, e no Teatro Domingos Oliveira. Segundo a crítica, é um espetáculo “para ver e rever”, “traz verdades difíceis de engolir” e pode causar “uma bela revolução interior”. Por esse motivo, tem sido intensa a procura pela peça por instituições e empresas interessadas em debater o racismo no interior de suas engrenagens.

“Muitas pessoas que se dizem não racistas acabam reproduzindo o racismo sem se dar conta. Ao assistir ao espetáculo, elas percebem que precisam se autofiscalizar e modificar seus comportamentos”, comenta o diretor e dramaturgo.

A idealização é do diretor, produtor e jornalista João Bernardo Caldeira.

Sobre a encenação

Em relação ao cenário, Clebson Prates buscou sublimar os padrões de conduta da branquitude dominante e hegemônica de uma escola de elite. Por isso, o linóleo, a lousa e as carteiras escolares têm a cor branca. Ao mesmo tempo, diversos livros de autores negros estão suspensos no ar. Por esse trabalho impactante, o cenógrafo concorre ao Prêmio Shell de 2023 pelo Rio de Janeiro.



Os espectadores são convidados a se sentar nas carteiras, dispostas em formato circular. E, contribuindo ainda mais para unir público e atores, a iluminação de Pedro Carneiro é bastante viva, quase simulando um ambiente real.

“Se uma sociedade é racista, suas instituições também são. E a escola é um espaço onde as máscaras não se sustentam por muito tempo. Assim, não foi difícil pensar nessa história. O livro do Manoel Soares é um manual antirracista, e eu, que sou professor há mais de 20 anos, já ouvi muitos absurdos de educadores e dos responsáveis pelos alunos nas reuniões”, conta França.

Inclusive, um levantamento divulgado pelo Ipec (Instituto de Referência Negra Peregum) e o Projeto SETA mostrou que 81% da população entre 16 e 24 anos afirma que o Brasil é um país racista e que 64% dos brasileiros dizem que racismo começa na escola.

Mery Delmond ainda complementa: “a partir do olhar sobre a branquitude, a peça desnuda as problemáticas do racismo e localiza o ‘sujeito branco’ como um indivíduo racializado dentro da estrutura de uma sociedade ainda tão racista como a nossa”.



FICHA TÉCNICA

Inspirado no livro de Manoel Soares

Texto: Rodrigo França e Mery Delmond

Direção: Rodrigo França

Elenco: Reinaldo Junior e Alex Nader

Atrizes convidadas: Stella Maria Rodrigues, Mery Delmond e Marya Bravo

Direção de movimento: Tainara Cerqueira

Cenário: Clebson Prates

Figurino: Marah Silva

Iluminação: Pedro Carneiro

Trilha sonora original: Dani Nega

Consultoria pedagógica: Clarissa Brito

Consultoria de representações raciais e de gênero: Deborah Medeiros

Fotografia: Afroafeto por Gabriella Maria, Sabrina da Paz e Agátha Flora

Identidade visual: Nós Comunicações

Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Marina Franco

Operação de som: Hugo Charret

Operação de luz: Lucas da Silva

Assistência de produção: Ludimila D´Angelis e Eduardo Rio

Produção executiva: Júlia Ribeiro

Contabilidade: Cristiano Geraldo Costa dos Santos

Idealização e direção de produção: João Bernardo Caldeira

Produção: São Bernardo

Instagram: @parameuamigobranco

SERVIÇO

Para Meu Amigo Branco

Data: 1º a 24 de março de 2024. Sextas e sábados, 21h30. Domingos, 18h30.

Local: Sala de Espetáculos I do Sesc Belenzinho (Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho, São Paulo)

Capacidade: 100 pessoas

Ingressos: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$12 (credencial plena)

Duração: 80 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

Estacionamento

De terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h.

Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional.

Transporte Público - Metrô Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)

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